Mulher de olhos fechados com a cabeça voltada para cima enquanto pétalas de rosa caem em cima dela.

Música, Sexo e Prazer

O prazer motiva os humanos e faz parte da nossa vivência como espécie. Filosoficamente, existem muitas respostas do porquê sentimos prazer. Por exemplo, para a neurociência, o prazer pode ser crucial para a nossa sobrevivência e reprodução – funcionando principalmente como um motivador de recompensa em funções primárias (como comer e procriar). Mas será que é só para isso que ele serve?

Você sabia que existem respostas hedônicas – prazerosas, que vão além desse sistema de recompensa primária? Sabia que existem respostas prazerosas, que podem ser abstratas e estéticas, que não se encaixam nessa formatação do “prazer ser uma mera função adaptativa”?

Um dos maiores exemplos disso é a MÚSICA!

Arte e Prazer Estético

A arte existiu ao longo de toda evolução humana, sendo uma das fontes mais comuns de prazer. Sim, a música e a arte são capazes de gerar prazer em você, mesmo que elas não ofereçam (até onde sabemos) nenhuma vantagem óbvia para a nossa sobrevivência.

Muitos estudos de neuroimagem indicam que o prazer induzidos pela música envolve os mesmos sistemas hedônicos (de prazer) que as recompensas primárias, como o sexo e o prazer culinário.

Mas, a maioria desses estudos foram feitos com técnicas que são incapazes de resolver a neuroquímica subjacente a esse processo. E, pensando nisso, um estudo recente, de 2025, feito por pesquisadores finlandeses, se propôs a estudar a neuroquímica da emoção humana no prazer musical.

O Sistema Receptor µ-opioide (Mor) e o Prazer Estético

Você já sentiu aquele arrepio ou teve uma sensação forte de prazer ao escutar uma música que gosta? Essa sensação especial é uma resposta neuroquímica e emocional poderosa.

Este estudo feito na Finlândia nos ajudou a entender melhor essa questão ao mostrar que o prazer que sentimos ao ouvir música está ligado a um sistema químico chamado sistema de opioides, que é o mesmo que ajuda a aliviar a dor e a criar sensações de felicidade com coisas que gostamos. Especificamente, ele envolve uma parte do cérebro chamada sistema de receptores µ-opioides, que fica em regiões importantes da nossa sensação de prazer, como o núcleo accumbens e o córtex orbitofrontal.

No nosso sistema nervoso, os receptores µ-opioide desempenham um papel importante na motivação e incentivo de recompensa e nos componentes de prazer primário. Em outras palavras, são esses receptores os responsáveis por nos dar prazer quando comemos aquele bolo de brigadeiro delicioso, ou aquela picanha no ponto! Ou, até mesmo, quando fazemos sexo.

Além disso, estudos sugerem que esses receptores podem modular essas respostas hemodinâmicas e comportamentais a estímulos emocionais. Ou seja, pode transformar toda essa parafernália neuroquímica em emoção!

Segundo os pesquisadores finlandeses, existem várias evidências de que esses receptores µ-opioide podem ser acionados durante a hedonia musical – o prazer estético musical.

O estudo mostrou que esse sistema de recompensa prazerosa que todos nós temos, não diz respeito somente às questões primárias. Veja o que os pesquisadores escreveram:

Nossos resultados indicam que recompensas estéticas, como a música, também modulam a atividade do sistema Mor. Isto sugere que os Mors mediam o prazer em todos os domínios, levando os humanos a buscar recompensas primárias e não primárias.”

Além disso, de acordo com a pesquisa, ouvir música prazerosa pode ser capaz de aliviar a dor crônica e pós-operatória, além de reduzir a necessidade de remédios analgésicos.

Outra coisa interessante foi que as diferenças na quantidade de receptores de opioides que cada pessoa possui podem explicar por que algumas sentem mais prazer ao ouvir música do que outras. Ou seja, a química do cérebro de cada pessoa influencia a sua forma de experimentar essa sensação estética e emocional.

Música e Sexo

Todo esse estudo revelou que a música (assim como a arte em geral) possui uma relação bem peculiar com a atividade sexual. Isso acontece porque, tanto o ato de ouvir música, quanto o de fazer sexo, envolvem respostas neuroquímicas do sistema de opioides no cérebro, que é responsável por gerar sensação de prazer.

O artigo explica que o sistema de receptores µ-opioides (MOR) mediador do prazer também é ativado durante experiências sexuais e outros comportamentos socialmente prazerosos.

A música, assim como o sexo, pode liberar opioides no cérebro, levando a sensações de bem-estar, arrepio, e uma sensação de conexão ou felicidade. Além disso, atividades musicais, como cantar ou dançar, também promovem a liberação de opioides, similar ao que acontece no sexo, e podem fortalecer vínculos sociais e emocionais.

Portanto, música e sexo compartilham uma base neuroquímica que força a conexão entre prazeres, ambos capazes de estimular o sistema de recompensa do cérebro e produzir emoções intensas e positivas.


Referências

(De onde tiramos essas informações)

Putkinen, V., Seppälä, K., Harju, H. et al. Pleasurable music activates cerebral µ-opioid receptors: a combined PET-fMRI study. Eur J Nucl Med Mol Imaging (2025). https://doi.org/10.1007/s00259-025-07232-z


Posts Similares