Como Surgiu a Partitura Musical?
Nós sabemos que a partitura pode ser a “vilã” para alguns músicos, ao mesmo tempo que “salvadora” para outros. Isso acontece porque muitos músicos não tocam sem ler uma partitura, enquanto outros, não conseguem tocar lendo uma.
Quem já estudou teoria musical, sabe que ler uma partitura pode não ser uma tarefa fácil. Afinal, aqueles rabiscos e bolinhas nas linhas podem até causar pesadelos (Se isso não aconteceu com você, experimente ver uma partitura para piano de Chopin. rsrs).
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento da escrita musical permitiu que a própria música e, consequentemente, a teoria musical, evoluíssem. Pois nós sabemos que tudo evolui a partir de um processo de adaptação, inclusive a música.
É claro que a história da notação musical não segue um caminho tão simples e retilíneo. Então entaremos aqui apresentar de modo simplificado a sua trajetória.
Uma Visão Geral
Já vimos no artigo “A origem da música” que a música é, provavelmente, tão antiga quanto a própria humanidade, ou até mesmo anterior a ela. Existem exemplos de músicas antigas escritas em pedra, barro e metal. Mas, infelizmente, pouco sabemos sobre a música de muitos povos antigos, justamente por falta de uma grafia ou forma de registro musical que fossemos capazes de compreender.
Até o momento, a escrita musical mais antiga que encontramos é o Hino a Nikkal (uma deusa mesopotâmica), que data de 2.400 A.C. Embora seja um tipo de grafia musical, não sabemos com exatidão como reproduzi-la.
O Surgimento da Notação Musical Ocidental
Sabe aquela aula de História em que você dormiu? Seria muito útil nesse momento! Assim como a filosofia, democracia e outros pilares de nossa sociedade moderna, os gregos também foram os pais da nossa teoria musical.
Pitágoras (aquele mesmo, do Teorema de Pitágoras) teve grande importância na construção da música teórica que conhecemos hoje. Os famosos “modos gregos” deram origem à nossa música tonal ocidental.
Mas foi só na Idade Média que surgiu a necessidade de padronizar uma forma de escrita musical.
Notação Neumática
Nosso sistema moderno de escrita musical ocidental teve suas origens nos famosos “neumas” (do latim modulação/sopro), por volta do século VIII D.C.
Os neumas eram pontos e traços que indicavam o movimento ascendente e descendente das melodias. Eles eram colocados em cima das sílabas do texto, e serviam como um lembrete da forma de execução musical cantada – geralmente por um coro de homens.
O problema é que a forma de escrita através de neumas só funcionava para aqueles que já conheciam a música. Sendo assim, não existia a possibilidade de uma leitura à primeira vista. E essa forma de escrita musical só indicava se a nota cantada iria “subir” ou “descer”.
No século X passou-se a colocar neumas e alturas variáveis em cima das sílabas. Depois, foi introduzida apenas uma linha em cima das sílabas para padronizar os neumas de forma mais organizada.
Essa linha era vermelha e provavelmente indicava a nota fá (OK, já temos um grande progresso aqui). Em seguida, foi introduzida outra linha acima da anterior, desta vez amarela, que simboliza a nota dó. Como no exemplo abaixo:
Guido d’Arezzo e a Notação Musical
O simpático monge italiano Guido d’Arezzo foi a peça fundamental para a notação musical que possuímos hoje. Além de introduzir o nome das sete notas musicais (Sim, foi ele que fez isso), é provável que Guido D’Arezzo tenha sido o inventor da primeira pauta de quatro linhas. Veja o exemplo:
Depois disso, como os neumas não podiam indicar nenhum padrão de ritmo e andamento musical, surgiu a necessidade de figuras que pudessem fornecer esta informação. Esse tipo de notação foi chamada de notação mensural. Veja o exemplo:
Note que as figuras musicais eram quadradas. Você sabe o por quê? Tente desenhar uma bolinha com a ponta de uma pena – Não vai dar muito certo (rsrs).
Outros Símbolos
Com a invenção da prensa, as possibilidades de grafia musical se multiplicaram. Posteriormente, foi possível grafar notas arredondadas, publicações de sinfonias e muito mais.
Com o passar dos anos, a partitura evoluiu ao ponto de surgirem símbolos específicos para determinados instrumentos.
Hoje, no século XXI, existem diversas ferramentas digitais que nos auxiliam no trabalho de notação musical, como editores de partituras (como o Sibelius e o Finale) e aplicativos que transcrevem melodias em notação musical como o ScoreCloud.
Mesmo depois desta evolução milenar, de todo trabalho que diversos músicos e teóricos tiveram ao longo do tempo, muitos ainda possuem um preconceito em relação à partitura.
Sim, ela é complexa, mas é justamente sua complexidade que possibilita uma performance musical mais precisa. Portanto, meu caro amigo músico, deixe esse medo de partitura de lado, ela veio para ajudar a sua vida!
Referências
(De onde tiramos essas informações)
GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. História da Música Ocidental. [S.l.]: Gradiva, 2007.
LEINIG, C. E. A MÚSICA E A CIÊNCIA SE ENCONTRAM. Curitiba: Juruá, 2009.
TOMÁS, L. Música e Filosofia: estética musical. São Paulo: Irmãos Vitalle, 2005.