Vista superior de partituras clássicas e uma caneta sobre uma superfície de madeira.

Por que Música é o formato de arte mais consumido no mundo?

Sabemos que a música é uma experiência de toda a vida na terra. Existem diversas pesquisas sobre como a música influencia animais, plantas, e tantas formas de vida no nosso planeta.

Em geral, sabemos que desde tempos ancestrais, a música tem desempenhado um papel crucial em nossas vidas, tanto individual quanto coletivamente. Mas o que nos leva (como espécie humana) a consumir tanto essa forma artística?

A Universalidade da Música

Não há dúvida de que a música é uma experiência fundamental para os seres humanos. O etnomusicólogo Bruno Nettl observa que todas as sociedades possuem algum tipo de música vocal, e praticamente todas têm instrumentos musicais, mesmo que rudimentares.

Mesmo nas culturas onde instrumentos podem ser escassos, há sempre algum tipo de percussão. A música vocal é uma prática comum tanto para homens quanto para mulheres, embora a prática de cantar juntos em oitavas possa variar socialmente.

A universalidade da música sugere que, apesar das diferentes formas que ela pode assumir, todos os grupos humanos no planeta praticam música de alguma maneira. Mas por que investimos tanto tempo e energia em aprender, fazer, e ouvir música?

A Ambiguidade e a Significância da Música

Ao ponderarmos a questão “Por que música?” percebemos que as respostas podem ser inúmeras. A música é profundamente ambígua e significativa tanto a nível pessoal quanto cultural.

Ela serve como uma atividade cultural organizadora, ajudando a unir comunidades e a expressar emoções e narrativas humanas.

Essas ideias são consistentes com as principais hipóteses evolutivas sobre as funções da música. A música é vista como uma “linguagem incorporada” que promove a coesão do grupo, ativando áreas específicas do cérebro.

Charles Darwin, por exemplo, sugeriu que a música é um instinto social que governa nossa evolução social. A música promove o bem-estar humano ao facilitar o contato social, expressar significados (incluindo narrativas) e estimular a imaginação.

Música e a Linguagem Universal

Leonard Bernstein também explorou a questão “Por que música?” em sua série de palestras de 1973 intitulada “The Unanswered Question” (“A questão não respondida”). Bernstein tentou extrapolar os conceitos de linguagem de Noam Chomsky para a experiência humana da música.

Chomsky propôs que todos os humanos têm uma competência gramatical inata relacionada à linguagem falada. Bernstein argumentou que a música possui raízes numa linguagem universal, central para toda a criação artística.

Música – o remédio misterioso

Já o famoso neurocientista Oliver Sacks disse que nós, humanos, somos uma espécie musical. Todos nós (com pouquíssimas exceções) somos capazes de perceber música, tons, timbre, intervalos entre notas, contornos melódicos, harmonia, e talvez no nível mais fundamental, ritmo. Integramos isso tudo e construímos a música na mente usando muitas partes do cérebro.

Oliver Sacks foi um dos grandes nomes na pesquisa em neurociência e música. Sacks trabalhava música com seus pacientes, que na maioria dos casos haviam sido diagnosticados com Alzheimer.

Como médico e pesquisador ele concluiu que:

A música pode nos tirar da depressão ou nos impelir às lágrimas – é um remédio, um tônico, um suco de laranja para as orelhas. Mas para muitos dos meus pacientes neurológicos, a música ainda é mais: Ela pode dar acesso, mesmo quando o medicamento não, para movimentos, fala, para a vida. Para eles, a música não é um luxo, é uma necessidade.

A música, portanto, não é apenas uma forma de arte, mas uma experiência humana fundamental que transcende barreiras culturais e temporais. Ela é uma ferramenta poderosa para a expressão e coesão social, desempenhando um papel vital na nossa evolução e no bem-estar humano.

Enquanto a pergunta “Por que música?” pode permanecer sem uma resposta definitiva, a exploração dessa questão revela a profundidade e a complexidade da nossa relação com a música, e nossa necessidade de consumi-la.


Referências

Bernstein, Leonard. The Unanswered Question: Six Talks at Harvard. Harvard University Press. 1981.

Nettl, Bruno. The Study of Ethnomusicology: Thirty-one Issues and Concepts. 2nd ed. University of Illinois Press. 2005.

SACKS, O. Alucinações Musicais. (L. T. Motta, Trad.) São Paulo: Companhia das Letras. 2007.

Sherman, L., & Dennis, P. EVERY BRAIN NEEDS MUSIC -The Neuroscience of Making and Listening to Music. New York: Columbia University Press, 2023.


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