Ouvir versus Tocar Música – Sincronização Cerebral
Você já deve ter tido a experiência de prestigiar ao vivo alguma performance musical — seja um concerto, um show, um coral, ou qualquer tipo de apresentação. De fato, a música ao vivo parece ser diferente, não é mesmo? Ela transmite uma energia, um clima único. Mas porque será que isso acontece?
Essa sensação diferente que a performance ao vivo causa em nós não é apenas um fator subjetivo da nossa percepção. De fato, a ciência tem se preocupado com essa questão, buscando entender o porquê isso ocorre. O próprio neurocientista Larry Sherman escreveu que:
“Algo mágico acontece quando as pessoas se apresentam juntas, comunicando-se musicalmente de forma unificada.“
Felizmente, uma nova teoria da neurociência parece ter conseguido explicar, pelo menos inicialmente, o que acontece de tão especial quando estamos frente a um palco num show de rock, por exemplo.
Segundo os neurocientistas, ao tocar ao vivo, é possível que o cérebro dos músicos entre em sintonia com os cérebros do público, o que chamamos de Sincronia Cerebral.
Sincronização Cerebral
Você já ouviu falar em sincronização cerebral? Uma teoria relativamente nova que diz que é possível diferentes cérebros entrarem em sintonia, inclusive em performances ao vivo – o que pode explicar toda essa questão.
Em 2023, uma reportagem na revista Scientific American apresentou ao mundo essa interessante teoria. Essa descoberta sugere que quando pessoas conversam, tocam, ou compartilham algum tipo de experiência, suas ondas cerebrais são sincronizadas. Segundo o artigo:
“Neurônios em locais correspondentes dos diferentes cérebros disparam ao mesmo tempo, criando padrões correspondentes. A experiência de “estar no mesmo comprimento de onda” que outra pessoa é real e é visível na atividade do cérebro.” – Scientific American.
Essa sincronização pode acontecer em diversos momentos, não só em questões musicais. Veja o que mais diz o artigo:
“Esse trabalho está começando a revelar novos níveis de riqueza e complexidade na sociabilidade. Em salas de aula onde os alunos estão envolvidos com o professor, por exemplo, seus padrões de processamento cerebral começam a se alinhar com os do professor — e maior alinhamento pode significar melhor aprendizado. Ondas neurais em certas regiões cerebrais de pessoas ouvindo uma apresentação musical combinam com as do artista — quanto maior a sincronia, maior o prazer.” – Scientific American.
A sincronização cerebral é um fato cientificamente comprovado. Mas será que isso explica o porquê da magia das performances ao vivo?
Sincronização Cerebral E Música Ao Vivo
Segundo o neurocientista Larry Sherman, vários estudos mostraram que os artistas e seus públicos têm atividade cerebral semelhante nos lobos frontal, temporal e parietal durante uma apresentação ao vivo.
Por exemplo, um estudo feito pelo pesquisador Rojiani, R. e colegas usando uma técnica chamada Espectroscopia Funcional no Infravermelho Próximo (fNIRS), examinou as atividades cerebrais de pessoas que estavam tocando bateria e comparou à pessoas que estavam apenas ouvindo a bateria. O estudo descobriu que aqueles que apenas ouviam a bateria também tinham atividade aumentada na área temporal e no lobo parietal – uma área envolvida na atenção e análise de eventos e que, portanto, afeta as interações sociais.
Outro estudo, também usando fNIRS, examinou as atividades cerebrais de um violinista e dezesseis ouvintes. A atividade cerebral foi medida tanto no violinista quanto nos ouvintes durante apresentações ao vivo. O estudo descobriu que a atividade cerebral no violinista e nos ouvintes era sincronizada e que essa ligação era mais forte quando o ouvinte gostava da música.
Dessa forma, essas descobertas sugerem que tanto os artistas quanto os observadores de uma performance sincronizam seus cérebros com a música, mas que a popularidade de uma peça musical pode influenciar essa conexão.
Conclusão
A Sincronização Cerebral pode ser a resposta por trás da força que uma performance ao vivo possui. Segundo esses estudos, é possível que o cérebro do público entre em sintonia com o cérebro do músico (ou dos músicos). Vale lembrar que, de acordo com os estudos, quanto maior esse sincronismo, mais prazer teremos na apresentação ao vivo. Ou seja, gostar do que está vendo e ouvindo é um fator importantíssimo para que a sincronização cerebral ocorra de forma mais potente.
Referências
(de onde tiramos essas informações)
Denworth, Lydia. Brain Waves Synchronize when People Interact: The minds of social species are strikingly resonant. Revista Scientific American, 1 de julho de 2023.Disonível em: https://www.scientificamerican.com/article/brain-waves-synchronize-when-people-interact/
Hou, Y., B. Song, Y. Hu, Y. Pan, and Y. Hu. The Averaged Inter-Brain Coherence Between the Audience and a Violinist Predicts the Popularity of Violin Performance. NeuroImage. 2020.
Molnar-Szakacs, I., and K. Overy. Music and Mirror Neurons: From Motion to Emotion. Social Cognitive and Affective Neuroscience. 2006.
Rojiani, R., X. Zhang, A. Noah, and J. Hirsch. Communication of Emotion via Drumming: Dual-Brain Imaging with Functional Near-Infrared Spectroscopy. Social Cognitive and Affective Neuroscience.2018.
Swarbrick, D., D. Bosnyak, S. R. Livingstone, J. Bansal, S. Marsh-Rollo, M. H. Woolhouse, and L. J. Trainor. How Live Music Moves Us: Head Movement Differences in Audiences to Live Versus Recorded Music. Frontiers in Psychology 2019.
Zatorre, R. J., J. L. Chen, and V. B. Penhune. When the Brain Plays Music: Auditory Motor Interactions in Music Perception and Production. Nature Reviews Neuroscience. 2007.