Imagem de capa. Fundo bege. À frente, homem de barba usando toca vermelha, blusa bege, e calça jeans, imita o ato de tocar guitarra com as mãos enquanto fz uma careta. Fim da descrição.

Como o Air Guitar funciona no seu cérebro?

Você já deve ter ouvido falar em Air Guitar – aquela velha “prática” que muitos músicos (principalmente guitarristas) possuem de imaginar tocar um instrumento. Basicamente, Air guitar é uma expressão usada para descrever o ato de “tocar” uma guitarra imaginária, geralmente acompanhando músicas de rock ou heavy metal. Essa prática é muitas vezes feita de forma performática ou cômica, imitando os movimentos de um guitarrista real, como tocar solos complexos ou fazer poses típicas de shows ao vivo.

Apesar da performance engraçada, muitos músicos (não só os guitarristas), afirmam que o ato de imaginar tocar um instrumento possui benefícios. Por isso, existem muitos estudos que buscam entender se essa ação de “tocar um instrumento imaginário” realmente funciona. Será!?

Imagens mentais musicais

A música, para a maioria das pessoas, é algo importantíssimo na vida! Mas aqui não estamos falando só daquela música externa, que você ouve no dia a dia, mas também daquela música interna, que você imagina.

O ato de imaginar música é comum para a maioria das pessoas. Afinal, quem nunca ficou com aquela música irritante de um certo comercial publicitário martelando na cabeça por dias?

Segundo o neurocientista Oliver Sacks, os músicos profissionais podem ter algo que a maioria de nós considera um talento excepcional para imagens musicais mentais. Tanto assim que muitos compositores começam a compor, ou criam toda uma obra, não com um instrumento, mas em sua mente – seguindo o exemplo clássico de Beethoven que continuou a compor mesmo depois de perder sua audição.

Por isso, em meados de 1990, o famoso neurocientista e pesquisador na área de música, Robert Zatorre, demonstrou que o ato de imaginar música pode ativar o córtex auditivo (onde o som e a música são processados inicialmente), quase com a mesma intensidade de quando se ouve música de fato. Ou seja, quando você imagina uma música, seu cérebro pode ativar as mesmas áreas de quando você ouve a mesma música.

Além disso, o ato de imaginar música pode estimular o córtex motor (responsável pelo movimento motor) e, inversamente, imaginar tocar um instrumento pode estimular o córtex auditivo.

Assustador, né?

Tocando um instrumento imaginário

Existem vários casos de instrumentistas que relatam essa experiência de imaginar tocar um instrumento. Sobre isso, a violinista Cindy Foster escreveu:

Por muitos anos, em dias de concerto, o programa aparecia em meu ouvido mental sem ser chamado e sem esforço. Isso, descobri, funcionava como um ensaio logo antes de entrar no palco, e era quase tão útil quanto realmente tocar as músicas. Sempre tenho a impressão de que minha mente incumbe-se da tarefa da preparação sem nenhum esforço ou instrução consciente da minha parte.

O que a violonista relata não é novidade para muitos músicos. Isso acontece porque a simulação mental de movimentos ativa algumas das mesmas estruturas neurais da execução dos movimentos reais.

De acordo com Oliver Sacks, a combinação da prática física (tocar um instrumento) + prática mental (imaginar tocar um instrumento), pode levar ao aperfeiçoamento da execução, muito além do que somente a prática física. Ou seja, imaginar tocar um instrumento pode te ajudar a melhorar seu desempenho quando o tocar de fato!

E não é só isso…

Segundo o pesquisador Larry Sherman, os chamados “neurônios-espelho” também podem ser ativados em músicos que estão apenas ouvindo música ao vivo tocada por outros músicos ou música gravada.

Por exemplo, músicos que apenas imaginam tocar uma peça musical ativam várias áreas de seus cérebros, incluindo áreas envolvidas em funções motoras.

Também foi relatado que áreas motoras foram ativadas em pianistas que assistiram a vídeos silenciosos de mãos tocando um teclado. Assim, apenas a percepção ou imaginação da música pode fazer com que o cérebro de um músico dispare neurônios envolvidos na execução dessa música.

É interessante pensar que você não precisa tocar um instrumento para seu cérebro entender que você está tocando um instrumento! Em outras palavras, Air Guitar realmente funciona!


Referências

HARRIS. R.; JONG B. M., Cerebral Activations Related to Audition-Driven Performance Imagery in Professional Musicians. PloS one, vol. 9,4 e93681. 8 Apr. 2014, doi:10.1371/journal.pone.0093681

SACKS, O. Alucinações Musicais. (L. T. Motta, Trad.) São Paulo: Companhia das Letras. 2007.

SHERMAN l., DENNIS P., EVERY BRAIN NEEDS MUSIC -The Neuroscience of Making and Listening to Music. New York: Columbia University Press, 2023.


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