Tocar um instrumento pode criar novas vias neurais no seu cérebro
Nós já falamos por aqui sobre como o processamento musical em nosso cérebro é complexo, e envolve uma série de estruturas e regiões. Mas, será que ocorrem mudanças em nosso cérebro quando tocamos algum instrumento musical?
Na verdade, muitas coisas podem acontecer em nosso cérebro quando somos expostos à arte musical e, principalmente, quando tocamos um instrumento musical. Mas hoje, vamos falar sobre algo bem interessante – seu cérebro pode literalmente “mudar” quando você é músico.
Ou seja, tocar um instrumento pode… CRIAR NEURÔNIOS!!!
O cérebro adulto pode criar novos neurônios?
A neurociência é uma área da medicina relativamente nova, por isso, muitas coisas sobre nosso cérebro ainda estão sendo descobertas.
Até certo tempo atrás, acreditava-se que um cérebro adulto não poderia criar neurônios. Infelizmente esse era o consenso geral dos neurocientistas na época.
Bom, para nossa felicidade e surpresa, essa ideia caiu em desuso, graças ao Dr. Atman e suas descobertas – ele propôs que a neurogênese (a geração de novos neurônios), não ocorreu apenas no cérebro em desenvolvimento, mas também no cérebro adulto!
As descobertas do Dr. Altman foram emocionantes — alguns diriam revolucionárias! — e quase ninguém acreditou nelas.2 Na verdade, seu laboratório perdeu o apoio financeiro porque a comunidade de pesquisa em neurociência não aceitou esse desafio herético ao dogma de Ramón y Cajal. No entanto, por meio do trabalho de dezenas de pesquisadores pioneiros que continuaram a buscar essa pesquisa em muitas espécies diferentes, a ideia de neurogênese no cérebro adulto foi finalmente aceita na década de 1990 – Larry S. Sherman
Hoje, o que sabemos é que à medida que envelhecemos, a neurogênese declina para níveis quase imperceptíveis (o que é normal). No entanto, mesmo um número muito pequeno de novas células no cérebro pode impactar dramaticamente a função e a atividade de qualquer circuito neural – é aí que entra a prática musical e o que ela pode causar!
Tocar um instrumento pode criar novos neurônios e novos circuitos
Segundo o neurocientista Larry Sherman, quando tocamos um instrumento musical, é fato que os sistemas cognitivo, motor e sensorial estão sendo completamente desafiados no processo de prática musical (especialmente música instrumental). Por isso, é possível especular que a neurogênese provavelmente desempenha um papel no aprendizado de tocar um instrumento.
Isso acontece porque quando aprendemos novas habilidades, como tocar um instrumento musical, esse aprendizado e as memórias que são formadas exigem a formação de novas redes neurais, formando conexões de alta velocidade entre muitas áreas cerebrais diferentes.
Como isso acontece?
Essas redes se desenvolvem como axônios e dendritos de neurônios próximos e distantes uns dos outros (já existentes ou gerados por neurogênese) criam sinapses que formam novos circuitos ou alteram circuitos existentes.
Esse processo é chamado de sinaptogênese. Um único neurônio pode ter milhares de entradas sinápticas vindas de milhares de outros neurônios, e esse único neurônio pode ter milhares de saídas sinápticas, influenciando muitos processos diferentes no cérebro.
Essas mudanças refletem o nível notável de plasticidade do cérebro humano. Quando aprendemos a tocar um instrumento musical, as memórias do que estamos aprendendo são codificadas por meio da formação de sinapses em lugares que incluem o hipocampo, por exemplo.
Quase imediatamente, as sinapses começam a se formar, levando a novos circuitos cujos sinais se fortalecem à medida que praticamos ou ensaiamos uma peça musical.
Ou seja, quanto mais você pratica música, mais sinapses você cria ou fortalece. Isso quer dizer que praticar música é uma maneira eficaz de promover a plasticidade cerebral.
A prática musical também cria mielina
Uma das características mais notáveis do cérebro humano é a velocidade na qual diferentes partes do cérebro se comunicam entre si. Essa velocidade é especialmente importante quando ouvimos, compomos ou tocamos música.
Embora muitos neurônios precisem disparar rápido, outros precisam disparar em velocidades mais lentas. A diferença entre neurônios de disparo rápido e lento, ou seja – a velocidade da informação, acaba sendo a mielina, uma substância gerada pelo processo de mielinização.
Nos humanos, a mielina permite que nossos cérebros realizem processos de alta velocidade que nos permitem coordenar rapidamente nossos movimentos (como tocar violino), perceber nossos ambientes com todos os nossos sentidos (como ouvir um concerto), pensar e, claro, aproveitar e nos envolver em todas as diferentes partes da música quase instantaneamente quando estamos ouvindo ou tocando música.
Estudos realizados nos últimos anos confirmaram que produzimos mielina mesmo depois dos vinte anos e que o aprendizado, como aprender as habilidades motoras finas envolvidas na prática musical, pode levar à formação de mielina.
Vários estudos têm apoiado a noção de que a prática musical por si só leva ao aumento da mielinização e que quanto mais você pratica um instrumento musical, mais você produz mielina!
Conclusão
Como a prática musical influencia mudanças estruturais no cérebro. Praticar um instrumento envolve desafios motores, sensoriais e cognitivos. Evidências crescentes mostram que esses tipos de desafios podem acarretar na criação de novos neurônios – induzindo a neurogênese; e na produção de mielina – que aumenta a velocidade de comunicação entre um neurônio e outro.
Portanto, mesmo que as mudanças possam ser menores do que quando éramos crianças, atividades como praticar piano ou outro instrumento quando somos mais velhos podem levar a aumentos na mielinização, melhorando a velocidade dos impulsos nervosos entre várias áreas diferentes de nossos cérebros.
Referências
Madera-Cimadevilla, T.; Cantero-García, M.; Rueda-Extremera, M. Music Therapy as Non-Pharmacological Treatment in Alzheimer’s Disease—Effects on Memory—Systematic Review. J. Ageing Longev. 2024, 4, 209-224. https://doi.org/10.3390/jal4030015
Pauwels, L., S. Chalavi, and S. P. Swinnen. “Aging and Brain Plasticity.” Aging 10. 2018.
Sherman, L., & Dennis, P. EVERY BRAIN NEEDS MUSIC -The Neuroscience of Making and Listening to Music. New York: Columbia University Press, 2023.
Tandirerung, Rivans Jackson, Irwanto and Anak Agung Ngurah Krisna. The effect of Mozart’s classical music on blood pressure in Wistar white rats (Rattus norvegicus). Bali Medical Journal. 2023.