Imagem com fundo laranja. À frente uma mulher com fones de ouvido laranja e camiseta laranja leva o dedo indicador esquerdo à boca enquanto sorri. Fim da descrição.

Qual o efeito da música no seu cérebro?

Nos mosteiros da Inglaterra, as vacas que ouvem música dão mais leite. No norte do Japão, a música aumenta em dez vezes a densidade da levedura usada para fazer saquê.  E no ser humano, o processo de escuta musical provoca diversas reações.

O ato de ouvir música, assim como em outros sistemas sensoriais do corpo humano, acontece de maneira hierárquica, ou seja, o som é processado em diferentes lugares e estágios do nosso sistema nervoso.

Antigamente, acreditava-se que a música (assim como a arte e a criatividade) era processada em apenas um lugar no cérebro. Esse pensamento caiu em desuso há algum tempo, embora ainda existam “ecos” dessa ideia, infelizmente.

O famoso neurocientista Daniel Levitin disse que o ato de ouvir música provoca uma ativação em cascata de regiões cerebrais numa ordem específica:

  1. Córtex Auditivo – Faz o processamento inicial dos componentes de som.
  2. Regiões Frontais – Responsáveis pelo processamento inicial dos componentes do som.
  3. Sistema Mesolímbico – Região envolvida nos estímulos, no prazer, na transmissão de opioides e na produção de dopamina (bem-estar) culminando numa ativação do núcleo acumbente (também chamado de centro do prazer).

Outro famoso neurocientista e médico, Oliver Sacks, disse que temos que ver o cérebro e o ouvido como um único sistema funcional. Em outras palavras, para entender como nosso cérebro processa música é necessário entender o todo, porque são camadas e mais camadas de informações sendo processada em nossa mente.

Por exemplo, pesquisas realizadas pelo neurocientista Robert Zatorre revelaram que quando ouvimos uma melodia, regiões específicas dos lobos temporais dorsais (localizadas logo acima das orelhas) analisam os intervalos entre as notas e as distâncias sonoras. Esses centros criam um “molde” mental que nos ajuda a identificar padrões melódicos, mesmo quando a música é transposta para diferentes tons.

O que pode acontecer no seu cérebro então?

O pesquisador Normam Weinberger escreveu em seu artigo “Music and the Brain” (“Música e o Cérebro“, em tradução livre), publicado na Scientific American, que música pode estimular os mesmos tipos de prazeres no cérebro de uma pessoa como o ato de comer chocolate, fazer sexo ou ingerir cocaína estimulam.

Além disso, estudos conduzidos por Daniel Levitin mostraram que, ao ouvir músicas familiares, nosso cérebro ativa não apenas essas regiões dos lobos temporais, mas também o hipocampo, uma estrutura essencial para a memória. Essa ativação pode trazer benefícios significativos, como a redução da agitação e o aumento da concentração em pessoas com Alzheimer.

Os neurocientistas também apontam que a memória e as emoções estão profundamente conectadas. O impacto da memória na experiência musical é tão grande que, sem ela, nossa relação com a música seria praticamente inexistente.

Outro aspecto importante é a percepção tonal. Geralmente, o tom que ouvimos corresponde à frequência fundamental do som, mas os harmônicos também desempenham um papel crucial, influenciando o timbre e a qualidade sonora. Mecanismos no córtex auditivo permitem que o cérebro diferencie esses tons, proporcionando a riqueza de detalhes que experimentamos ao ouvir música.

Essas descobertas ressaltam como a música ativa múltiplas áreas cerebrais, conectando memória, emoção e cognição de maneira única. É um verdadeiro testemunho do poder transformador da música na nossa vida e saúde mental.


Referências 

WEINBERGER, N. Music and the Brain. SCIENTIFIC AMERICAN, 36 à 43. 2006.

ADDERLY, B., & CROOK, T. Memória: como deter e reverter sua perda. São Paulo: Nobel. 2001.

KOLB, B., & WHISHAW, I. Neurociência do Comportamento. Manole. 2002.

LEVITIN, D. A MÚSICA NO SEU CÉREBRO (3 ed.). (C. Marques, Trad.) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.  2011.

SACKS, O. Alucinações Musicais. (L. T. Motta, Trad.) São Paulo: Companhia das Letras. 2007.

ZATORRE, R., & ZARATE, J. Cortical Processing of Music. Em D. 2012.

POEPPEL , T. OVERATH, & A. POPPER, The Human Auditory Cortex. New York: Springer.


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