Por que prefiro um estilo musical à outro?
A música é uma parte essencial da experiência humana. Desde os primeiros sons que ouvimos até as melodias complexas que adoramos, a música molda nossas emoções, memórias e até nossa identidade.
Hoje existem incontáveis artistas de diferentes gêneros e estilos musicais. Por conta dessa gigantesca variedade musical, surgiram muitas pesquisas tentando descobrir por quê preferimos um estilo musical à outro.
Afinal, por que seu vizinho ouve Iron Maiden todos os dias, enquanto o outro vizinho ouve somente música clássica? Porque as músicas que estão na parada de sucesso são consumidas por muitos, ainda que existam milhares de pessoas que não sabem da existência delas?
Será que existe uma resposta científica do porquê disso tudo?
O que as pesquisas dizem?
O famoso neurocientista Daniel Levitin, em seu livro “A música no Cérebro”, dedicou um capítulo inteiro à este assunto. Ao escrever sobre o gosto musical, o autor mencionou estudos sobre preferência musical feito até mesmo com bebês antes do nascimento. Como assim?!
Segundo Daniel Levitin, entender o gosto musical das pessoas pode ser uma tarefa mais difícil do que parece. Por isso, existem estudos diversos na área, até mesmo com bebês na barriga das mamães.
Neste estudo com bebês, os resultados mostraram que, após o nascimento, os bebês preferiram músicas que tinham ouvido ainda na barriga da mamãe à músicas novas.
Mas, se esse fosse um único fator que define nosso gosto musical, todos nós iriamos gostar somente do que nossas mães gostam (no meu caso, eu deveria ser a maior fã de Michael Jackson, o que não aconteceu).
Por isso, a antropologia e sociologia dizem que o meio em que você está inserido é fundamental para definir seu gosto musical. E eles não estão errados. Porém, o meio não é o único fator que pode definir o que gostamos ou deixamos de gostar.
Fatores psicológicos e neurológicos
Uma das maneiras de tentar entender nosso gosto musical é através dos estudos de psicologia e neurociência. Mas existem muitos estudos, muitos mesmo, sobre o assunto.
Por exemplo, um estudo de 2020, feito pelos pesquisadores Anton Kurapov e Mykhailo Kandykin, examinou traços de personalidade e como isso pode interferir no nosso gosto musical.
Segundo os pesquisadores, pessoas que estão abertas a novas experiencias geralmente preferem estilos musicais como Jazz, Blues, e música Clássica. Enquanto pessoas que são extrovertidas tendem a preferir música Pop, Soul, Eletrônica, e Funk (que dentro da pesquisa não é o Funk carioca).
Empatia e sistematização na escolha musical
Porém, outro estudo, feito pelo renomado psicólogo e pesquisador da Universidade de Cambridge, David Greenber, revelou que a maneira com que as pessoas constroem o pensamento, e questões psicológicas, podem interferir no seu gosto musical. Em particular, o estudo de Greenber examinou os papéis da empatia e da sistematização na escolha musical.
O estudo definiu empatia como a capacidade de sentir, prever e responder apropriadamente aos estados mentais de outras pessoas. A sistematização, por outro lado, foi definida como o processo de reconhecer, prever e responder à maneiras como os sistemas funcionam. Ou seja, sistematização envolve analisar expectativas, regras e padrões (como escala e progressões de acordes).
Assim, através de uma pesquisa com mais de quatro mil participantes, Greenber dividiu os tipos de ouvintes em 3 grupos:
#1 Os Empatizantes
Formado por pessoas que tendem a ser mais sensíveis e emotivas, além de focar nas emoções de outras pessoas (empatia). Esse grupo teve preferência por músicas mais “suaves”, com atributos de valência negativa (deprimente e triste), e profundidade emocional (poética, relaxante, e pensativa), como R&B, Soul, e Soft Rock.
#2 Os Sistematizadores
Formado por pessoas que tendem a focar em regras e padrões, preferindo música mais intensa e emocionante, com valência positiva (animada), e profundidade cerebral (complexa). As pessoas deste grupo preferiram músicas como Heavy Metal e Hard Rock. – (concordamos que faltou nesta seleção, sem dúvida, o Metal Sinfônico e o Progressivo, não é mesmo?!).
#3 Grupo de Equilíbrio
Formado por pessoas parte Empatizantes e parte Sistematizadoras.
Qual a resposta?
Apesar da diversidade de estudos sobre gosto e preferência musical, ainda não conseguimos entender de fato o porquê escolhemos um determinado estilo musical enquanto nosso irmão, por exemplo, que teve a mesma formação, ouve músicas totalmente diferentes.
O que sabemos, até então, são possíveis fatores que podem influenciar nossas escolhas estéticas. Mas, até o momento, as pesquisas não foram capazes de responder nossa questão.
Referências
Boer, D., R. Fischer, M. Strack, M. H. Bond, E. Lo, and J. Lam. “How Shared Preferences in Music Create Bonds Between People: Values as the Missing Link.” Personality and Social Psychology Bulletin (2011): 1159–71.
Garrido, S., and E. Schubert. “Individual Differences in the Enjoyment of Negative Emotion in Music: A Literature Review and Experiment.” Music Perception 28 (2011): 279–96.
Greenberg, D. M., S. Baron-Cohen, D. J. Stillwell, M. Kosinski, and P. J. Rentfrow. “Musical Preferences Are Linked to Cognitive Styles.” PLoS One 10 (2015): e0131151
Kurapov, Anton & Kandykin, Mykhailo. (2020). CONNECTION BETWEEN PERSONAL VALUES AND MUSIC PREFERENCES. Bulletin of Taras Shevchenko National University of Kyiv Series “Psychology”. 2. 52-56. 10.17721/BSP.2020.2(12).9.
Levitin, Daniel. A Música no seu Cérebro: a ciência de uma obsessão humana. 3ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.