Por que compomos música?
A música é uma forma universal de expressão humana, e a composição musical é uma manifestação de nossa criatividade e curiosidade.
Este artigo explora o motivo pelo qual os seres humanos, e especificamente compositores como Beethoven, criam música, com base em recentes pesquisas sobre seu processo criativo.
A Curiosidade Humana
Os seres humanos exploram constantemente o mundo ao seu redor em busca de novas experiências e informações. Esse comportamento é descrito como curiosidade, um estado de busca de informações motivado internamente.
A curiosidade nos ajuda a preencher lacunas em nosso conhecimento e é uma característica essencial da aprendizagem e da criatividade. Através da curiosidade, o conhecimento existente pode ser transformado em algo novo e original.
Curiosidade e Composição Musical
A curiosidade desempenha um papel fundamental no ato de compor música. Não importa o processo que um compositor utilize para criar música, a curiosidade é parte do que impulsiona a descoberta de novos temas ou sequências musicais.
Muitos compositores incorporam certos temas ou estilos musicais em suas obras, mas estas assinaturas podem mudar ao longo da vida de um compositor, impulsionadas pela curiosidade.
O Caso de Beethoven
Um excelente exemplo do papel da curiosidade na composição musical é Ludwig van Beethoven. Quando tinha treze anos ele já havia escrito três sonatas para piano, mas elas são frequentemente deixadas de lado porque ele ainda estava começando.
Aos vinte e cinco anos ele começou a escrever sonatas para piano influenciadas por Haydn e Mozart. A partir da Sonata para Piano nº 8 (Pathétique), Beethoven começou a explorar novos temas, afastando-se das influências anteriores.
Essa exploração continuou com a famosa Sonata para Piano nº 14 (Moonlight) e outras obras notáveis. A curiosidade de Beethoven levou-o a novas direções musicais e a compor algumas de suas obras mais inovadoras.
Mudanças no Período Intermediário
No início do período intermediário de suas sonatas para piano, Beethoven declarou a seu amigo Wenzel Krumpholz que seguiria um novo caminho.
Esse novo caminho incluiu obras como Waldstein e Appassionata, que demonstram sua intenção de explorar novas fronteiras musicais. Esse período culminou com a Sonata para Piano nº 27, quando ele novamente decidiu mudar de direção.
As Últimas Sonatas
A partir da Sonata para Piano nº 28, Beethoven escreveu algumas das músicas mais desafiadoras tecnicamente de sua carreira, como a Hammerklavier.
Essas sonatas representam comportamentos exploratórios significativos e foram escritas em um período em que Beethoven estava surdo e sofria de dores crônicas. No entanto, sua curiosidade o levou a compor músicas únicas e inovadoras, culminando na Sonata para Piano nº 32.
A Recompensa da Criatividade
O impulso de Beethoven para criar algo novo reflete seu estado de curiosidade. Nosso cérebro experimenta uma sensação de recompensa quando criamos algo novo no processo de explorar o incerto. Quando nossa curiosidade leva a algo novo, a recompensa resultante nos traz uma sensação de prazer.
Modelagem da Curiosidade na Composição
Pesquisadores modelaram como a curiosidade influencia a composição musical.
No caso de Beethoven, a modelagem computacional de suas trinta e duas sonatas para piano revelou que os padrões musicais encontrados em suas obras diminuíram nas sonatas posteriores, enquanto novos padrões aumentaram.
Em outras palavras, a música de Beethoven tornou-se menos previsível ao longo do tempo, impulsionada pela curiosidade em explorar novas ideias musicais.
Conclusão
A curiosidade é um poderoso motor da criatividade humana, especialmente na composição musical. O exemplo de Beethoven ilustra como a curiosidade pode levar a inovações e transformações significativas na música. Nosso cérebro busca recompensas ao criar algo novo, e a curiosidade nos guia nesse processo, resultando em obras que continuam a inspirar gerações.
Referências
Kidd, C., and B. Y. Hayden. The Psychology and Neuroscience of Curiosity. Neuron 88 (2015): 449–60.
Martin, R. Beethoven’s Hair: An Extraordinary Historical Odyssey and a Scientific Mystery Solved. New York: Crown, 2001.
Sherman, L., & Dennis, P. EVERY BRAIN NEEDS MUSIC -The Neuroscience of Making and Listening to Music. New York: Columbia University Press, 2023.