Imagem de capa. Fundo azul claro. À frente o rosto de um bebê sorrindo usando fones de ouvido branco com espumas azuis claras. Fim da descrição.

Meu filho é inteligente por que ouve Mozart?

Você já deve ter ouvido falar que “música deixa a criança mais inteligente”, ou que “crianças que estudam música ficam mais inteligentes”, certo? Infelizmente, as coisas não funcionam exatamente assim.

Essas ideias muitas vezes tomam o senso comum por conta de pesquisas que foram mal interpretadas, ou pesquisas que acabaram deixando “escapar” alguma questão importante, tornado-se uma pesquisa “não muito científica”, se é que você me entende.

Essa ideia de que crianças ficam “mais inteligentes” por causa da música não é nova. Ela surgiu na década de 1990, com o chamado Efeito Mozart, por conta de uma controversa pesquisa realizada nos Estados Unidos.

O Efeito Mozart

Em 1993, um estudo de Rauscher e colegas examinou como ratos de laboratório e estudantes de graduação (que muitas vezes se voluntariam para tais estudos em troca de pizza) pontuavam em tarefas de raciocínio espacial (como resolver labirintos) depois de se sentar em silêncio ou depois de ouvir o primeiro movimento (Allegro con spirito) da Sonata para Dois Pianos em Ré Maior de Mozart.

O estudo “descobriu” que os sujeitos que ouviram esta peça musical de Mozart obtiveram melhores notas do que o grupo de controle que não ouviu a música.

Mas será que o estudo foi conclusivo ou apenas apontou uma possibilidade? Bom, de fato o reboliço causado por conta desse estudo, de décadas atrás, permanece até hoje!

O Efeito Mozart Na Mídia

O estudo foi exagerado na mídia popular. A mensagem que corria nas revistas e jornais da época era de que simplesmente expor as crianças à música de Mozart as tornaria mais inteligentes. Uma informação que chamou muita atenção dos papais da época, é claro!

O Efeito Mozart, que hoje é marca registrada, deu origem a uma verdadeira febre de consumo da música de Mozart, culminado no que Beatriz Ilari chamou de “programas ‘mágicos’ de educação musical, que prometiam desenvolver bebês mais inteligentes, ou seja, mais aptos a obterem um lugar em universidades famosas como a renomada Universidade de Yale”.

O surto em busca do “bebê prodígio” foi enorme. Na época, as empresas vendiam gravações de Mozart aos pais, alegando que elas melhorariam a inteligência de seus filhos. 

A repercussão foi tão grande que o governador da Geórgia, Zell Miller, emitiu uma nota dizendo que toda mãe de um recém-nascido deveria ganhar um CD gratuito da música de Mozart para estimular o desenvolvimento cerebral de seus filhos.

Podemos até concordar com o presente sugerido pelo governador.  Quem não ficaria feliz em ganhar um CD (isso ainda era utilizado na época) de Mozart!? Agora, achar que isso tornaria as crianças da Geórgia mais inteligentes, já era demais.

O Efeito Mozart – Funciona Ou Não?

Infelizmente, não só a interpretação pública do estudo de Raucher estava errada, mas o estudo real era falho.  Após a polêmica, o Efeito Mozart foi pesquisado por outros cientistas, e nenhum conseguiu encontrar os efeitos registrados no estudo proposto por Raucher. Ou seja, os estudos que vieram depois não conseguiram ver um efeito significativo de Mozart ou de outra música em tarefas espaciais ou cognitivas, principalmente referente à inteligência das crianças e bebês.

De fato, alguns estudos demonstraram sim algumas possíveis melhorias em certas tarefas, mas essas melhorias provavelmente estavam ligadas ao fato de que a música pode aumentar a excitação do ser humano, e não à música e Mozart em si.

Em outras palavras, se você estiver sentado em silêncio, seu cérebro não estará particularmente ativo em comparação a quando seu cérebro está ouvindo Mozart (ou qualquer outra coisa), o que pode afetar a atividade do seu córtex cerebral. Por esse motivo, os indivíduos que são expostos à música estimulante (não só Mozart) têm mais probabilidade de ter melhor desempenho em testes espaciais, como labirintos, em grande parte como resultado de estarem mais alertas.

Então, Música Tem Algum Benefício Para Crianças?

Embora o Efeito Mozart seja um mito, existem sim vários benefícios de ouvir e aprender música na infância.  Mas é importante entendermos que muitas pesquisas estão surgindo e, que em sua maioria, apontam algumas pequenas questões que podem ser benéficas ou não (já ouviu falar em como Paixão e Coragem podem auxiliar na edução musical?). Infelizmente, a fórmula mágica da “inteligência” ainda não foi descoberta, e não pode ser atribuída à música em si.

Quer saber mais sobre os efeitos benéficos da música e da arte em nossas vidas? Fique de olho em nossos artigos!


Referências

Ilari, B. A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos. Revista eletrônica de musicologia, Volume IX , outubro, 2005. 

Sherman, L., & Dennis, P.  EVERY BRAIN NEEDS MUSIC -The Neuroscience of Making and Listening to. Columbia University Press ,2023

Rauscher, F. H., G. L. Shaw, & K. N. Ky. Music and spatial task performance. Nature 365 (1993): 611.

Rauscher, F. H., G. L. Shaw, & K. N. Ky. Listening to Mozart enhances spatialtemporal reasoning: Towards a neurophysiological basis. Neuroscience Letters 185 (1995): 44-47.


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