Improvisação – Conversas Musicais
Ao falarmos de improvisação musical, logo imaginamos uma banda ou um grupo de músicos. É claro, a improvisação pode ser executada de forma solo, mas quando estamos falando da prática musical em grupo, surgem fatores interessantes sobre o ato de improvisar.
Em estilos musicais como Jazz, o ato de improvisar é bem comum, principalmente em grupo ou dueto. Um exemplo disso é a técnica “trading fours”, onde os músicos de jazz revezam, improvisando em seções de quatro compassos cada.
Mas o que será que acontece em nosso cérebro quando improvisamos junto a outros músicos?
Conversas musicais
Curiosamente, o processo cerebral envolvido na improvisação musical em grupo tem muitas semelhanças com a maneira como processamos conversas verbais, ou seja, como conversamos.
Pesquisadores da Georgia State University, Atlanta (EUA), conduziram um estudo muito interessante com pianistas de jazz, para explorar como o cérebro responde durante a improvisação em interação com outros músicos.
O estudo investigou a relação entre a atividade cerebral e a conectividade funcional durante a improvisação musical. Os autores realizam uma análise detalhada da atividade cerebral dos músicos enquanto eles improvisam, utilizando técnicas de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI).
Para isso, pares de músicos de jazz tocaram juntos, um era capaz de ouvir o outro, mas com um deles na máquina de ressonância magnética com um teclado e o outro na sala de controle com outro teclado. O estudo abordou os seguintes pontos:
Metodologia
- Controle de Escala: Músicos alternaram tocando uma escala menor (D Dorian) em semínima.
- Improvisação de Escala: Cada músico improvisou na escala dórica por quatro compassos, com o outro músico respondendo.
- Controle de Jazz: Músicos alternaram tocando quatro compassos de uma nova composição de jazz memorizada.
- Improvisação de Jazz: Músicos trocaram trading fours, improvisando sobre a mesma peça de jazz.
Resultados
A improvisação musical ativou várias áreas do cérebro também utilizadas na comunicação verbal, incluindo o Giro Frontal Inferior: Associado ao processamento da fala e linguagem (área de Broca); e o Giro Temporal Superior Posterior: Envolvido no processamento auditivo e sintaxe da linguagem.
Além disso, o “trading fours ” desativou estruturas envolvidas no processamento do significado da linguagem, como o giro angular e o giro supramarginal. Isso sugere que o cérebro trata essas interações musicais de maneira semelhante às conversas verbais, mas sem focar no significado linguístico.
Os resultados também mostraram que, durante a improvisação, houve uma maior atividade em certos nódulos do cérebro.Curiosamente, essa maior atividade foi acompanhada por uma menor conectividade funcional entre as regiões cerebrais, sugerindo que a improvisação pode envolver um padrão de ativação cerebral que não depende fortemente da comunicação entre diferentes áreas do cérebro.
Isso sugere que a improvisação musical pode ser um processo criativo que envolve uma ativação intensa de áreas específicas do cérebro, ao mesmo tempo em que reduz a necessidade de conectividade entre essas áreas. Isso pode refletir a natureza única da improvisação, onde a criatividade é impulsionada por uma intensa atividade local em vez de uma rede amplamente conectada.
Uma descoberta interessante foi a ativação do córtex pré-frontal dorsolateral durante o “trading fours”, uma área ligada ao automonitoramento consciente do comportamento. Isso indica que, ao improvisar em resposta a outro músico, os músicos avaliam conscientemente se suas respostas são melodicamente e ritmicamente adequadas.
Referências
Dhakal, K., M. Norgaard, B. M. Adhikari, K. S. Yun, and M. Dhamala. “Higher Node Activity with Less Functional Connectivity During Musical Improvisation.” Brain Connectivity (2019): 296–309.
Sherman, L., & Dennis, P. EVERY BRAIN NEEDS MUSIC -The Neuroscience of Making and Listening to Music. New York: Columbia University Press, 2023.