Mulher grávida com uma mão na barriga e outra segurando fones de ouvido.

A Influência da Música na Gravidez

Dentro do útero, banhado no fluido amniótico, o feto ouve sons. Ouve a batida cardíaca da mãe, às vezes acelerando, outras vezes diminuindo. E ouve música”. – Daniel Levitin.

A ideia de escrever este artigo surgiu depois que uma grande amiga (Carol💕), que está grávida, me perguntou sobre como a música pode influenciar na gravidez.

Minha resposta para ela foi a mesma que escrevo aqui pra você: “Bem, a música na gestação pode influenciar em vários sentidos. Existem vários estudos sobre os aspectos benéficos disso. Mas, o que você gostaria de saber especificamente?

Pensando nisso, resolvi fazer um artigo com os aspectos gerais de como a música pode influenciar tanto a mamãe quanto o feto durante a gestação.

Como se Forma o Sistema Auditivo do Bebê em Gestação?

Sabemos que o feto é capaz de ouvir sons, de reconhecer a voz humana, principalmente da mãe. Mas como isso acontece?

Primeiro, é necessário lembrar que é um ser em formação. Por esse motivo óbvio, vale mencionar que o desenvolvimento do sistema auditivo é um processo complexo que ocorre precocemente no desenvolvimento embrionário.

Entre a 23ª e a 25ª semanas estão formadas as principais estruturas do ouvido, mas estudos indicam que o feto pode ser capaz de ouvir entre a 18ª e a 21ª semanas, e capaz de distinguir fonemas na 30ª semana.

Existe evidências que no terceiro trimestre de gravidez, o feto tem a capacidade de distinguir entre o discurso da mãe e de um estranho, diferenciar a língua materna de outra língua, e ouvir música.

Por outro lado, o ruído ambiental pode afetar negativamente o desenvolvimento, e em casos extremos causar problemas psicológicos e psicossomáticos.

Mas se o Feto Não Ouve, Como a Música Pode Influenciar?

Como estamos falando de música, e obviamente de som, é importante lembrar que tudo isso é transmitido através de frequências. Isso quer dizer que mesmo que o sistema auditivo não esteja formado, a frequência pode ser percebida pelo feto através de vibrações, seja do corpo da mãe ou do líquido amniótico.

Além disso, uma pesquisa de 2012 encontrou evidências benéficas da música na gestação, mesmo antes da formação do sistema auditivo do feto. Neste estudo, os pesquisadores concluíram que a exposição pré-natal à música pode influenciar de forma positiva e significativa o comportamento neonatal. Mas como isso é possível?

Segundo pesquisadores, na gravidez, é improvável que os benefícios da música sejam apenas de forma auditiva. Eles notaram que a música pode influenciar de forma benéfica as alterações endócrinas maternas – que são as mudanças hormonais do organismo durante a gravidez, que podem impactar a saúde da mãe e do feto – A música reduz o stress e a ansiedade materna, e tem múltiplos efeitos endócrinos, como aumento dos níveis de cortisol e hormônio de crescimento.

Por isso, o estudo concluiu que, além dos benefícios endócrinos da mamãe, a exposição musical na gravidez parece favorecer a neurogênese e a plasticidade cerebral do feto.

O Feto Ouve Música!

A pesquisadora Alexandra Lamont, da Universidade de Keele, no Reino Unido, descobriu que os fetos são capazes de ouvir não somente sons, mas música, efetivamente.

Em sua pesquisa, ela constatou que um ano depois do nascimento, os bebês reconheciam e até preferiam as músicas que ouviram enquanto estavam no útero. Esses resultados são importantes pois mostram que o cérebro pré-natal e dos recém-nascidos é capaz de armazenar lembranças e recuperá-las ao longo do tempo.

Com isso, o que podemos afirmar é que as preferências musicais são influenciadas, mas não determinadas, pelo que ouvimos no útero (como já falamos no artigo “Por que prefiro um estilo musical à outro?”)

Sobre isso, o neurocientista Daniel Levitin disse que:

“Há indicações de que, no caso da música, até mesmo as experiências pré-natais ficam codificadas na memória, podendo ser acessadas na ausência de linguagem ou na consciência explícita da memória.” – Daniel Levitin

Música e Musicoterapia Durante a Gravidez

Pesquisas indicam que tocar música para um feto pode melhorar positivamente o vínculo entre mãe e filho. Isso é possível de ser analisado porque a introdução da tecnologia de ultrassom na obstetrícia nos deu a oportunidade de realizar exames não invasivos de fetos humanos e facilitar o estudo dos efeitos de várias condições psicológicas maternas sobre os fetos.

Mudanças significativas no estado cardíaco fetal, aceleração da frequência cardíaca fetal e aumento da reatividade do eletrocardiograma fetal foram observadas durante a estimulação musical. O estudo também revelou que a falta de resposta fetal aumentou após a redução da estimulação musical. Ou seja, seu bebê gosta de música!

A escolha da música também é um fator importante. Já falamos muito por aqui de como o prazer estético é fundamental na apreciação musical. Então, não adianta você, mamãe, ouvir uma música que não gosta. Tem que ser algo que possa gerar prazer em você e, consequentemente, em seu bebê.

Entretanto, músicas relaxantes, mais lentas, como por exemplo de 60 batidas/minuto, ajudam a relaxar e controlar a ansiedade. Isso acontece porque as 60 batidas/minuto são o ritmo da vibração do nervo cerebral, o que pode estimular as oscilações do mesmo. Esse ritmo aumenta a liberação de beta-endorfinas, que bloqueiam as células nervosas de liberar sinais de dor. Com isso, a grávida fica mais calma e feliz, e possivelmente o feto também!

Em um estudo de Sidorenko, a música provou ser uma terapia eficaz que leva à prevenção de partos prematuros e tratou com sucesso a hipertensão durante a gravidez. A música também tem sido usada como um método perfeito de preparação pré-operatória para parto cesáreo.

Outro estudo contribuiu com essa ideia, sugerindo que com a música é possível modular a atividade do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) fetal, em curto prazo, abrindo cenários potencialmente significativos do ponto de vista terapêutico. Explico:

As principais funções fisiológicas são controladas pelo Sistema Nervoso Autônomo (SNA) – como frequência cardíaca, frequência respiratória, função renal e gastrointestinal. Isso quer dizer que, por exemplo, em gestantes com ameaça de parto prematuro (onde se espera o nascimento de bebês com atraso no desenvolvimento do SNA), o uso da música no período pré-natal poderia auxiliar na ativação do SNA e, portanto, no seu desenvolvimento.

Existem ainda estudos que sugerem que expor o feto à música e à fala materna durante a gravidez está associado a uma ampla redução em comportamentos semelhantes ao autismo.

Ainda outros estudos apontam que ouvir música na hora de dormir pode melhorar a qualidade do sono em mulheres grávidas com sintomas de insônia.

Enfim, ouvir música na gestação só tem benefício! (desde que você goste daquilo que está ouvindo, não se esqueça disso!)

Breve Conclusão

Ouvir música vai muito além de simplesmente escutar sons. A música ativa várias áreas do cérebro ao mesmo tempo, influenciando nossas emoções, pensamentos e até funções do corpo, como respiração e batimentos cardíacos.

Por isso, a música pode ser usada como uma ferramenta poderosa para estimular o cérebro e os sentidos. Estudos mostram que a exposição à música pode ajudar no crescimento, na alimentação e até no alívio da dor na gestação.

Além disso, nos primeiros dias de vida, os bebês já reagem emocionalmente à música, o que sugere que ela tem um papel importante no desenvolvimento do cérebro.

A música também pode ajudar a regular as emoções porque ativa áreas do cérebro responsáveis por sentimentos e bem-estar. Quando uma mãe canta para o bebê, por exemplo, ambos liberam endorfinas, substâncias que trazem relaxamento e reduzem a ansiedade.

Ainda existem poucos estudos sobre como a música pode influenciar o cérebro a longo prazo, mas pesquisas recentes apontam que ela pode ser uma aliada importante no desenvolvimento de bebês prematuros, especialmente em unidades de terapia intensiva neonatal (UTIN). Isso acontece porque a música pode ajudar a estimular o cérebro e melhorar sua função em momentos críticos do desenvolvimento.


Referências

(de onde tiramos essas informações)

Arya R, Chansoria M, Konanki R, Tiwari DK. Maternal Music Exposure during Pregnancy Influences Neonatal Behaviour: An Open-Label Randomized Controlled Trial. Int J Pediatrics. 2012; ID 901812.

DE OLIVEIRA, A. C.; E MOURA, R. M.; CARVALHO, I.; PEIXOTO, M. J. MUSICEMBRIOLOGY IN CHILDREN NEURODEVELOPMENT: A REVIEW. NASCER E CRESCER – BIRTH AND GROWTH MEDICAL JOURNAL, Porto, Portugal, v. 25, n. 3, p. 159–162, 2016.

Gebuza, Grażyna et al. “The effect of music on the cardiac activity of a fetus in a cardiotocographic examination.” Advances in clinical and experimental medicine : official organ Wroclaw Medical University vol. 27,5 (2018): 615-621. doi:10.17219/acem/68693

Ji, C. et al. (2023) ‘The role and outcomes of music therapy during pregnancy: a systematic review of randomized controlled trials’, Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology, 45(1). doi: 10.1080/0167482X.2023.2291635.

Kim CH, Lee SC, Shin JW, Chung KJ, Lee SH, Shin MS, et al. Exposure to Music and Noise During Pregnancy Influences Neurogenesis and Thickness in Motor and Somatosensory Cortex of Rat Pups. Int Neurourol J 2013; 17: 107-13.

Levitin, Daniel. A Música no seu Cérebro: a ciência de uma obsessão humana. 3ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.

Massimello, Francesca et al. “Music Modulates Autonomic Nervous System Activity in Human Fetuses.” Frontiers in medicine vol. 9 857591. 14 Apr. 2022, doi:10.3389/fmed.2022.857591

Ruan, Zeng-Liang et al. “Antenatal Training with Music and Maternal Talk Concurrently May Reduce Autistic-Like Behaviors at around 3 Years of Age.” Frontiers in psychiatry vol. 8 305. 11 Jan. 2018, doi:10.3389/fpsyt.2017.00305


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