Three women in red dresses play guzheng instruments in an outdoor setting, with a serene blue sky backdrop.

A atividade cerebral durante a composição pode ser diferente da de improvisar e de outras atividades criativas

A música é uma forma de expressão artística que pode ser criada de diversas maneiras, sendo a composição e a improvisação duas das mais comuns.

Essas duas formas de criação musical envolvem a habilidade técnica e a criatividade como ponto de partida, mas no que diz respeito aos processos cerebrais e efeitos sobre o cérebro, as duas formas de criação podem ser bem diferentes.

Compondo para um instrumento que não se toca

Um estudo conduzido pelo laboratório de Dezhong Yao na Universidade de Ciência e Tecnologia Eletrônica da China examinou um grupo de compositores enquanto eles compunham música para um zheng chinês – conhecido também como guzheng, é uma cítara chinesa que existe há aproximadamente 2.500 anos e possui um som único, semelhante ao de harpas e alaúdes.

Mulher tocando um zheng chinês.

Um detalhe bem interessante deste estudo é que, embora todos os participantes fossem compositores, nenhum tocava o instrumento!

Metodologia do Estudo

O estudo envolveu dezessete compositores destros do Conservatório de Música de Sichuan, todos com mais de cinco anos de experiência em composição, mas sem familiaridade com o zheng.

Os compositores foram escaneados em uma máquina de ressonância magnética enquanto descansavam e enquanto compunham uma peça de música zheng usando sua imaginação.

Resultados da Composição

Os resultados mostraram que, durante a composição, houve uma diminuição na conectividade entre as áreas visuais e motoras do cérebro, bem como na área envolvida no processamento de palavras.

Isso sugere que essas áreas não são necessárias para imaginar a composição instrumental.

Em contrapartida, houve um aumento na conectividade entre áreas implicadas na empatia, controle de impulsos, emoção, e tomada de decisão.

A Rede de Modo Padrão

Durante a composição, os compositores também mostraram maior conectividade na chamada rede de modo padrão, que envolve comportamentos como sonhar acordado, autorreflexão e planejamento futuro.

Essa sinalização aumentada pode refletir a necessidade de um tipo específico de planejamento que inclui a geração livre de notas individuais, combinado com o desejo de comunicar significado emocional específico na música.

A Pesquisa Continuou…

O laboratório de Yao continuou a explorar os processos de improvisação e composição em um segundo estudo focado no sistema de demanda múltipla, localizado nas regiões frontal e parietal do córtex.

Este sistema é ativado durante tarefas cognitivas complexas e é essencial para a inteligência fluida, que envolve resolver novos problemas e identificar padrões.

Metodologia do Estudo

Neste estudo, pianistas experientes do Conservatório de Música de Sichuan foram escaneados sob diferentes condições:

  • Linha de base: sem pensar em nada.
  • Familiar: improvisando ou compondo uma peça familiar (“Für Elise” de Beethoven).
  • Desconhecido: improvisando ou compondo uma peça original.

Resultados da Improvisação

Os resultados mostraram uma ampla ativação do sistema de múltiplas demandas tanto nas tarefas familiares quanto nas desconhecidas. No entanto, a tarefa desconhecida induziu mais atividade em uma parte específica do sistema, o sulco intraparietal, envolvido na compreensão das intenções dos outros.

Comparando Composição e Improvisação

Os estudos indicam que compor e improvisar envolvem o sistema de múltiplas demandas para processar novas melodias, mas também sugerem que essas atividades requerem diferentes níveis de atividade cerebral dependendo da familiaridade com a tarefa.

Isso quer dizer que os processos de criar música inspirada em peças conhecidas e criar melodias novas utilizam caminhos neurais distintos.

Conclusão

Compor e improvisar são processos criativos que compartilham algumas funções neurais, mas também apresentam diferenças significativas nas redes cerebrais envolvidas.

Essas diferenças devem ser consideradas ao ensinar e aprender habilidades musicais, pois influenciam como o cérebro se engaja e responde durante a criação musical.

A compreensão desses processos pode enriquecer a prática musical, proporcionando insights valiosos sobre a natureza da criatividade humana.


Referências

Bengtsson, S. L., M. Csíkszentmihályi, and F. Ullén. Cortical Regions Involved in the Generation of Musical Structures During Improvisation in Pianists. Journal of Cognitive Neuroscience. 830–42. 2007.

Lu, J., H. Yang, H. He, S. Jeon, C. Hou, A. C. Evans, and D. Yao. The Multi- ple-Demand System in the Novelty of Musical Improvisation: Evidence from an MRI Study on Composers. Frontiers in Neuroscience. 2017.

Lu, J., H. Yang, X. Zhang, H. He, C. Luo, and D. Yao. The Brain Functional State of Music Creation: An fMRI Study of Composers. Scientific Reports. 2015.

Sherman, L., & Dennis, P. EVERY BRAIN NEEDS MUSIC -The Neuroscience of Making and Listening to Music. New York: Columbia University Press, 2023.


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